Saltar para os conteúdos

NA INCUBADORA COM... PROF. JOÃO FALCÃO E CUNHA

Na incubadora com... | 12-02-2024

Na sexta edição de "Na Incubadora com..." convidámos o Professor João Falcão e Cunha, Professor Catedrático na FEUP, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, para falar um pouco sobre o papel e os desafios das escolas e universidades na sociedade atual.

  1. Quais são os desafios enfrentados pelas escolas na adaptação dos currículos a uma atualização constante nos modelos de gestão das empresas e alterações constantes dos paradigmas económicos e sociais?


 Na minha perspetiva, na Vida e nas Escolas os processos de ensinar, aprender, monitorizar e avaliar caminham juntos e têm o objetivo de nos tornar melhores pessoas e melhores cidadãos. A Escola também deve ser um laboratório onde se ensaiam novos paradigmas de formação e educação que são testados e nos abrem novas perspetivas para a construção de melhores organizações, que nos permitem evoluir sempre almejando uma melhor Economia e Sociedade, sustentáveis no longo prazo.

A criação de novo conhecimento e o desenvolvimento de novas tecnologias, tendo sempre origem nas necessidades, inquietações ou curiosidades das pessoas e das organizações, introduzem alterações inesperadas que, muitas vezes, requerem a nossa adaptação. As Escolas têm um problema de posicionamento face à evolução: trabalhar no curto prazo ou no longo prazo? Ambos são necessários. Sobretudo numa sociedade em evolução rápida, é necessário que a Escola proporcione ferramentas e mecanismos que ajudem as pessoas a adaptar-se a contextos e condições que estão em contínua mudança. Mas a Escola também deverá perspetivar para além do curto prazo e preparar os agentes da mudança para a construção do futuro. Sejam objetivos de curto, médio ou longo alcance, a Escola nunca poderá alhear-se de uma formação de elevada qualidade aliada a uma educação fundada em princípios
humanistas.

A Escola, como qualquer organização, tem de ser ágil e melhorar continuamente as propostas de processos de ensino, aprendizagem, monitorização e avaliação. Os currículos e seus objetivos devem ser adaptáveis e promover paulatinamente a autonomia dos estudantes. Por outro lado, ao desenvolver conhecimento através da investigação, a Escola deve criar epromover mecanismos que permitam aplicar esse conhecimento no desenvolvimento de uma melhor Sociedade. A Escola terá de recriar a arte de concatenar a produção de conhecimento, cada vez mais vasta e complexa, com a sua aplicabilidade nos diferentes meios sociais.
A sua bússola deverá orientar para a seleção criteriosa dos conhecimentos a transmitir aos estudantes e o seu horizonte deverá focar-se na preparação destes, desde o início da sua formação, para atuarem de modo crítico, reflexivo e holístico em prol do conhecimento e do bem-estar e desenvolvimento social.
Como abordar desafios tão atuais e complexos como a transição de tecnologias, a gestão das redes sociais, a computação quântica ou o controlo de veículos autónomos nas estradas? Qualquer que seja essa abordagem, a Escola não poderá esquecer que não se trata apenas de ciência e tecnologia, por mais importantes que estas sejam.

A Escola é sempre presente, mas trabalha continuamente para o futuro próximo e distante. Quem ensina e aprende tem de manter ambas as perspetivas e reconhecer, como referiu Agostinho da Silva, que “Ensinar é a melhor maneira de Aprender”. Esta curta frase confere um tributo gigante à Escola, o baluarte mais elevado na responsabilidade de educar pessoas com conhecimentos e competências que permitam construir uma Sociedade mais saudável, mais justa, mais sustentável e mais feliz.

  1. Qual é o impacto da colaboração entre universidades e empresas na retenção de talentos altamente qualificados? Existem exemplos de parcerias bem-sucedidas que demonstram como as universidades contribuem para o desenvolvimento de talentos e sua retenção nas empresas?


Universidades e empresas são organizações que viveram bastante isoladas mutuamente no passado. A visão habitual é que as universidades preparam as pessoas para trabalharem nas empresas. Nas universidades aprende-se a teoria e nas empresas a prática.
Mas esse modelo é redutor e considero que a manutenção de fortes ligações e interações entre os dois tipos de organizações é benéfica para todos. Mas para tal é necessário que haja boas ideias e projetos conjuntos, assentes em trabalhos que envolvem equipas de docentes/investigadores e empresários/técnicos, em que participam também estudantes.

Todos podem contribuir para valorizar o projeto comum e todos podem beneficiar dele. Saber trabalhar em conjunto requer por exemplo confiança, imaginação e perseverança, entre outros requisitos.

As empresas desejam contratar e ter entre os seus elementos pessoas bem preparadas para os desafios presentes e futuros, pelo que o conhecimento dos que se graduam nas universidades é muito relevante para as empresas.
As empresas começam, todavia, a tomar consciência do potencial adicional no que respeita os desafios que podem colocar às universidades solicitando o seu conhecimento para resolver problemas práticos que carecem de fundamentação teórica para viabilizar a sua solução.
As empresas têm a capacidade de influenciar com experiência e sabedoria o conhecimento que se produz nas universidades. Nestas, já não se trata apenas da investigação fundamental e da produção unicamente teórica do conhecimento.

As universidades desejam que os estudantes venham a ter bons empregos, bem pagos e que estes sejam as primeiras opções para o desenvolvimento das empresas.
Estas devem valorizar o conhecimento dos estudantes e reconhecer-lhes qualidades e competências construídas ao longo da sua vida universitária, para valorizarem o seu papel nas empresas.

O trabalho conjunto orientado por ideias e projetos com vista à criação de valor é bem-sucedido quando envolve pessoas com elevada formação e dotadas de competências transversais (“soft-skills”) e empresas com uma visão de futuro, com objetivos ambiciosos e metas a curto, médio e longo prazo.

Uma estratégia para construir de raiz esse trabalho conjunto poderá envolver a recetividade de as empresas para receberem estudantes durante os anos finais da sua formação universitária e apoiarem-nos, em caso de manifestação conjunta de interesses, nos seus estudos pós-graduados através da atribuição de bolsas que lhes permitam desenvolver os seus trabalhos de investigação enquadrados nos interesses de ambas as partes.
 

  1. De que forma as parcerias entre universidades e empresas estão a impulsionar a inovação e o desenvolvimento tecnológico? Quais são os modelos de colaboração mais eficazes que têm surgido?


Nas universidades assiste-se à crescente valorização do trabalho de investigação, por vezes até em detrimento da valorização da atividade de ensino.
Embora haja melhores definições de investigação e inovação, a investigação usa recursos (“Euros”) para obter conhecimento novo, e a inovação usa conhecimento novo para obter valor (“Euros”).

No meu entender esta ênfase na investigação deveria ser aproveitada para trabalhar em projetos interdisciplinares com empresas. Muitos incentivos públicos existem para esta aproximação, em especial o financiamento melhorado aos projetos em parceria.
Embora a responsabilidade pela parceria seja sempre mútua, considero que as empresas podem ser mais persistentes e mais exigentes com as universidades na proposta e execução dos projetos. E devem dar às universidades contrapartidas interessantes, dependentes dos resultados obtidos, provocando um ciclo virtuoso. Sem as empresas a investigação realizada nas universidades tem um risco elevado de não ser valorizada, ou de ser apenas pontualmente aproveitada sem todos os benefícios de manter e fazer evoluir o conhecimento e a experiência acumulada que uma parceria de longo prazo permite.
Considero que o melhor modelo para uma parceria é aquele em que existe já confiança entre as pessoas envolvidas e uma ideia promissora que requer partilha de responsabilidades. Para a parceria se manter é necessário que surjam resultados com valor que permitam sustentar o desenvolvimento da relação, nos vários prazos. Neste modelo as empresas, que conhecem bem melhor os mercados do que as universidades e sabem melhor o valor das ideias, devem assumir maior responsabilidade e muitas vezes liderar. O modelo de parceira inclui sempre a participação de estudantes e, nos projetos mais ambiciosos, o envolvimento ativo de candidatos a doutoramento. Quando as ideias são muito boas, e o conhecimento gerado tem elevado valor económico e/ou social, deve ser considerada a possibilidade de criação de novos negócios, possivelmente autónomos.

Como sempre, confiança, imaginação e perseverança são requisitos essenciais, e a experiência tem muito valor.

NA INCUBADORA COM... PROF. JOÃO FALCÃO E CUNHA

Outras notícias

09-04-2025

O TECNET está de volta para mais uma edição

O TECNET está de volta para mais uma edição

O TECNET está de regresso a São João da Madeira, com uma nova edição nos dia 26 & 27 de Junho de 2025. Mais novidades em breve!

09-04-2025

Na incubadora com...Prof.Martinho Oliveira

Na incubadora com...Prof.Martinho Oliveira

Nesta edição da rubrica “Na incubadora com…”, estivemos à conversa com o Professor Martinho Oliveira, Diretor da Escola Superior Aveiro-Norte (ESAN), uma unidade ligada à Universidade de Aveiro e também parceira da SANJOTEC. Falámos sobre educação, inovação e o papel das instituições de ensino superior na formação dos profissionais do futuro.

09-04-2025

Comunidade SANJOTEC: Inova3

Comunidade SANJOTEC: Inova3

Para a vigésima edição da Newsletter SANJOTEC estivemos à conversa com a Inova3. ?A Inova3 é uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções de automação industrial, focando-se na integração de autómatos programáveis, sistemas de supervisão e monitorização de processos.

09-04-2025

SANJOTEC marcou presença no Tech Business Summit 2025

SANJOTEC marcou presença no Tech Business Summit 2025

No passado dia 13 de março, a SANJOTEC esteve presente no Tech Business Summit 2025, um evento de referência na área da inovação, tecnologia e transformação digital, que reuniu vários profissionais, empresas e entidades ligadas ao setor tecnológico.

26-03-2025

Nova área reservada SANJOTEC

Nova área reservada SANJOTEC

A SANJOTEC acaba de lançar uma nova área reservada, exclusiva para a sua comunidade empresarial, reforçando o compromisso com a inovação e o suporte às empresas incubadas. Este novo espaço digital oferece acesso a recursos e funcionalidades que facilitarão a comunicação com a SANJOTEC.

21-03-2025

Open Day SANJOTEC 2025

Open Day SANJOTEC 2025

A SANJOTEC recebeu ontem cerca de 140 alunos das escolas secundárias de São João da Madeira para mais uma edição do seu Open Day.

07-03-2025

Comunidade SANJOTEC: Livetech

Comunidade SANJOTEC: Livetech

Para a décima nona da Newsletter SANJOTEC estivemos à conversa com a Livetech. A Livetech é uma agência digital que combina criatividade e tecnologia para criar soluções de branding, websites e marketing digital.

07-03-2025

Na incubadora com... Liza Orioli

Na incubadora com... Liza Orioli

Para a décima nona edição do segmento “Na incubadora com...” estivemos à Conversa com Liza Orioli, Diretora de Marketing da IDEPA. A IDEPA é uma empresa sanjoanense especializada na criação e produção de etiquetas, fitas e acessórios têxteis.

28-02-2025

INnovate My City: Conhece os Grandes Vencedores do concurso

INnovate My City: Conhece os Grandes Vencedores do concurso

No passado dia 28 de fevereiro, a SANJOTEC foi palco da grande final do INnovate My City, um concurso que desafia equipas a desenvolverem soluções inovadoras e sustentáveis para melhorar a qualidade de vida nas cidades. O evento reuniu cinco equipas finalistas, que apresentaram propostas disruptivas para tornar os espaços urbanos mais inteligentes e ecológicos.

20-02-2025

SANJOTEC lança programa CREATECH Boost+Digital para impulsionar startups e empresas do ecossistema

SANJOTEC lança programa CREATECH Boost+Digital para impulsionar startups e empresas do ecossistema

A SANJOTEC lança o programa CREATECH Boost+Digital, um programa inovador de ignição e aceleração dedicado às empresas do ecossistema. Este programa oferece a oportunidade de ter um plano de mentoria, produzido e adaptado às suas necessidades.

10-02-2025

Na incubadora com... Luísa Matos

Na incubadora com... Luísa Matos

Para a décima oitava edição do segmento “Na incubadora com...” estivemos à Conversa com Luísa Matos, CEO da Cleanwatts. No âmbito do projeto Green+, a Cleanwatts e a SANJOTEC juntaram-se para criar a primeira Comunidade de Energia Renovável com estas características específicas num Parque de Ciência e Tecnologia em Portugal. A Cleanwatts é uma empresa climate tech focada em melhorar a relação da sociedade com a energia, onde ela é mais necessária: localmente. A Cleanwatts tem como missão potenciar a transição energética através da gestão de ativos energéticos locais, permitindo assim tirar mais partido das energias renováveis e de cargas flexíveis, rumo a um futuro sustentável.

10-02-2025

Comunidade SANJOTEC: Vinumis

Comunidade SANJOTEC: Vinumis

Para a décima sétima oitava da Newsletter SANJOTEC estivemos à conversa com a Vinumis. A Vinumis é uma garrafeira online que, além de vinhos, oferece uma seleção de acessórios de vinho e bar de qualidade. Comercializam também cabazes, presentes e brindes vínicos, tanto para empresas como para clientes finais, proporcionando uma experiência diferenciadora.