Na Incubadora com.. Sérgio Rodrigues
Na incubadora com... | 16-10-2024
Para a décima quarta edição do segmento “Na incubadora com...” estivemos à Conversa com Sérgio Rodrigues.
Sérgio Rodrigues é engenheiro electrotécnico de formação tendo lançado o seu primeiro projeto de software ainda antes de terminar os estudos em1996. Com o objectivo de aprender o mais possível, passou por diferentes tipos de indústrias, sendo CTO da empresa de referência de tecnologia para restauração em 2000. Passou por Madrid, Londres, Hong Kong e Singapura até 2010, altura em que voltou a Portugal para assumir a responsabilidade de Head of Product Delivery da Sage Portugal e lançou o seu primeiro fundo de Business Angels com o objectivo de ajudar as startups da região.
Neste momento é Managing partner de um fundo de investimento de Business Ângels, Angel Leader da Core Angels Porto e Board member da Investors Portugal. Como Business Angel tem uma relação muito hands-on e mantém contacto muito próximo com todas as participadas.
P.: Quais os objectivos e quem integra a CoreAngels Porto?
R.: A CoreAngels Porto é um fundo de investimento de Business Angels que foca-se em startups em estágio inicial (early stage) localizadas na região do Porto, abrangendo um raio de até 70 km. Embora os investimentos de Business Angels sejam tradicionalmente feitos de forma individual, o modelo da CoreAngels propõe que esses investidores se associem em formato de sindicância para realizar investimentos conjuntos.
Essa estrutura permite a profissionalização do processo de investimento, ao mesmo tempo que promove a diversificação do portfólio de investimentos, o que possibilita mitigar o risco compartilhando-o entre os investidores. A iniciativa visa tanto otimizar o processo quanto aumentar as chances de sucesso para as startups e os investidores.
P.: Como está estruturada atualmente a CoreAngels?
R.: A CoreAngels Porto começou com um grupo de Business Angels fundadores, mas a ideia é que esse número cresça ao longo do tempo, transformando o fundo em um rolling fund, ou seja, um fundo em constante captação e evolução.
Dentro do fundo, existem diferentes estruturas que distribuem as responsabilidades comuns da atividade de investimento:
- Equipa de scouting e análise: é responsável por pesquisar novos projetos e fazer uma avaliação inicial antes de submetê-los ao comitê de investimento.
- Equipa de desinvestimentos: encarregada de identificar oportunidades de saída bem-sucedida, seja por meio de novas rondas de investimento, buyouts ou fusões.
- Para cada startup, é designado um Angel responsável pelo acompanhamento próximo, garantindo que o grupo tenha um monitoramento constante do progresso da empresa.
Além disso, são realizados periodicamente comitês de investimento, nos quais os projetos identificados pela equipa de scouting são avaliados e as decisões de investimento são tomadas.
P.: Que tipo de projectos procuram?
R.: A tese de investimento da CoreAngels Porto é abrangente, focada em projetos em fase inicial (early stage), sem restrições de setor ou indústria. No entanto, existem algumas condições específicas que os projetos devem atender:
Ter pelo menos um cliente pagante para o produto ou serviço.
- Capacidade de escalar deve ser facilmente identificável.
- A equipa de fundadores deve incluir mais de uma pessoa.
- A equipa precisa ter todas as competências essenciais (core skills) necessárias para o desenvolvimento do projeto já internalizadas.
Essas condições visam garantir que os projetos apoiados tenham potencial real de crescimento e sustentabilidade.
P.: Que sugestão dão enquanto potenciais investidores as empresas em fase de early stage sediadas na SANJOTEC?
R.: A nossa tese de investimento na CoreAngels Porto vai além de apenas verificar a escalabilidade do projeto e a complementaridade da equipa, que são de fato elementos cruciais. No entanto, há algumas questões fundamentais que os founders precisam ter em mente, mas que muitas vezes são negligenciadas:
As melhores expectativas precisam ser viáveis: O resultado dos cenários mais otimistas tem de ser interessante. Muitos planos de negócio não sobrevivem a um teste básico de viabilidade financeira. É essencial que, ao estimar as melhores vendas potenciais, os custos correspondentes sejam subtraídos e, no mínimo, o saldo seja positivo. Parece óbvio, mas frequentemente nos deparamos com projetos onde as vendas previstas são muito baixas ou os custos muito elevados para gerar lucro, comprometendo a sustentabilidade do negócio.
Clareza na aquisição de clientes: É fundamental que a estratégia de aquisição de clientes seja clara e bem definida. Projetos que dependem apenas de boca-a-boca ou de um website ou app para atrair clientes não terão sucesso. É necessário apresentar uma estratégia sólida de captação de clientes, detalhando não só o plano, mas também os custos associados, seja em comunicação, marketing digital ou envolvimento de pessoas. Além disso, é preciso transmitir confiança de que essa estratégia pode ser executada de maneira eficaz e escalável.
Essa abordagem mais realista e prática garante que o projeto esteja melhor preparado para enfrentar o mercado, oferecendo maior segurança aos investidores.
