Na incubadora com...Prof.Martinho Oliveira
Na incubadora com... | 09-04-2025
Nesta edição da rubrica “Na incubadora com…”, estivemos à conversa com o Professor Martinho Oliveira, Diretor da Escola Superior Aveiro-Norte (ESAN), uma unidade ligada à Universidade de Aveiro e também parceira da SANJOTEC. Falámos sobre educação, inovação e o papel das instituições de ensino superior na formação dos profissionais do futuro.
P.: Para quem ainda não conhece, o que é a ESAN e qual a sua missão?
R.: A ESAN é uma unidade de ensino, formação e investigação da Universidade de Aveiro, sediada em Oliveira de Azeméis. A nossa missão assenta em dois pilares essenciais: por um lado, a oferta de formação superior de cariz prático; por outro, a promoção de uma cooperação estreita com a sociedade, em especial com o tecido empresarial da região, que é especialmente dinâmico.
Para além da formação, temos também uma presença ativa no panorama cultural local, aproximando a Universidade de Aveiro à comunidade.
P.: De que forma se diferencia a ESAN de outras instituições de ensino superior na formação de talentos?
R.: A diferenciação da ESAN passa, em primeiro lugar, pelo desenvolvimento curricular que fazemos em articulação direta com o tecido empresarial.
Todos os ciclos de estudo – desde os Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), às licenciaturas e mestrados – são desenhados com base num diálogo próximo com o tecido empresarial, associações e outras entidades locais.
Para além disso, promovemos uma ligação constante dos alunos ao mundo empresarial, desde cedo. Os alunos são envolvidos em projetos em contexto real, seja dentro da escola, ou nas próprias empresas, e recebem visitas de profissionais que trazem problemas reais para serem debatidos e desenvolvidos em contexto académico.
Procuramos sempre que os nossos estudantes tenham contacto direto com os desafios reais do mercado. Este envolvimento com o meio empresarial é essencial para que adquiram competências práticas e estejam mais bem preparados para ingressar no mercado de trabalho.
Temos também técnicos especializados do setor empresarial a lecionar algumas das nossas unidades curriculares, o que contribui para uma formação mais alinhada com as exigências do mercado de trabalho.
P.: Qual tem sido o papel da SANJOTEC nesta ligação entre a ESAN e o tecido empresarial?
R.: A ligação entre a ESAN e a SANJOTEC é bastante próxima e profícua. Enquanto Diretor da ESAN, faço parte da Direção da SANJOTEC, o que, desde logo, reforça esta cooperação. Temos promovido diversas iniciativas conjuntas, tanto a nível institucional como pedagógico.
Ao nível académico, incentivamos o espírito empreendedor entre os nossos alunos, apoiando o desenvolvimento de ideias que, muitas vezes, evoluem para projetos com potencial para serem incubados na SANJOTEC. Para além disso, dinamizamos iniciativas próprias ou em colaboração com outras entidades, como a Adritem, sempre com foco no empreendedorismo e na inovação.
Do ponto de vista institucional, temos contado com a SANJOTEC na organização de eventos, seleção de oradores e também na receção de visitas à Universidade e à ESAN, reforçando o papel da SANJOTEC como ponto de contacto entre a academia e o ecossistema empresarial.
Esta sinergia permite potenciar ideias e promover um verdadeiro espírito empreendedor.
P.: Na sua perspetiva, o que considera essencial na formação de profissionais que pretendem atuar em áreas inovadoras e tecnológicas?
R.: Antes de mais, é essencial compreender o que é a inovação e o que ela representa no contexto atual. A formação nestas áreas exige um corpo docente qualificado, infraestruturas de qualidade e equipamentos modernos, sobretudo se pensarmos na indústria transformadora e nas suas exigências tecnológicas.
Para além disso, o modelo pedagógico deve ser dinâmico e inovador, capaz de envolver ativamente os alunos e de os preparar para um mercado em constante transformação.
P.: E como antecipa a evolução da formação académica nos próximos anos, face às mudanças no mercado de trabalho?
R.: Essa é sempre uma pergunta desafiante, porque é difícil prever com exatidão. No entanto, uma coisa é certa: a formação académica será fortemente influenciada pelas transformações tecnológicas em curso e pelas exigências emergentes do mercado de trabalho.
As competências digitais avançadas ganham cada vez mais relevância – falamos de inteligência artificial, ciência de dados, automação, robótica, sistemas de informação industriais, entre outras. Para dar resposta a estas necessidades, os currículos têm de ser dinâmicos e adaptáveis. Nem todos os cursos permitem essa flexibilidade de forma igual, mas é um desafio que temos de continuar a enfrentar.
Além das competências técnicas, há também uma valorização crescente das soft skills – comunicação, comportamento interpessoal, resolução de problemas… Estas competências humanas são fundamentais e começam a ser trabalhadas com mais intensidade, embora ainda de forma algo tímida.
Também acredito na aprendizagem ao longo da vida como resposta às mudanças rápidas do mercado, e nesse sentido, temos apostado nas microcredenciais – formações curtas e específicas que respondem diretamente às necessidades das empresas.
P.: Quer desenvolver um pouco mais o tema das microcredenciais?
R.: As microcredenciais são já uma realidade na Universidade de Aveiro e representam uma resposta muito eficaz às exigências imediatas do mercado de trabalho. São formações de curta duração — 15 a 20 horas, por exemplo — construídas em parceria com empresas e altamente orientadas para a prática.
Diferenciam-se de outras formações por serem mais ágeis, específicas e creditáveis, podendo até integrar percursos formativos mais longos. Funcionam também como uma ferramenta útil para a formação contínua dentro das próprias empresas.
P.: Que conselho gostaria de deixar aos jovens que iniciam o seu percurso académico e profissional?
R.: Acima de tudo, que não tenham medo de falhar — a universidade é um espaço para experimentar, errar e aprender. Aconselho-os também a partilharem o seu tempo com pessoas que os inspirem e a estarem abertos à aprendizagem, dentro e fora da sala de aula.
Mais do que nunca, é importante escolher um caminho com valores, com respeito pelo próximo e que passe pela democracia. E, claro, fazer as coisas que gostamos com paixão. Quando trabalhamos com paixão, a motivação é outra e os resultados também.
E o meu conselho final? Venham até à ESAN. Vão encontrar aqui muitas das coisas de que falámos... senão todas.
